Quem disse que
desistir é difícil? Não, não... Desistir é muito fácil. Sinto-me um criminoso
com razão, que não sabe sua situação, não sabe seu roubo, seu delito, seu
crime, seu latrocínio, seu destino. A
quem roubei os sonhos? A quem fiz chorar? A alguém fiz isso tudo, pois na vida,
segundo a lei de causa e efeito, minha prisão não pode ter sido por nada,
ninguém é preso injustamente nesta cela, ninguém. Essa clausura me sufoca, quita-me as ganas de tentar, de enfrentar, de encarar os fatos e ser encarado. Junto a estes
moribundos que se dizem meus irmãos, rio alto, muito alto, meus irmãos, ora
veja, meus irmãos, enchem o peito com o possessivo. Não são meus irmãos porcaria nenhuma, perdão por
a palavra chula, mas porcaria me define aqui, aliás porcaria é palavra muito limpa para
mim; o pior vocábulo que encontres, caro leitor de apontamentos, é a palavra
que quiçá me defina. A mente, se é que
isso pode ser chamada de mente, está mais suja, confusa, detestável e largada aos
ventos do umbral terreno que lama na boca de errante. Já não consigo pensar em
nada de bom. Mas como eu pensaria em algo de bom se nunca me passou algo
benéfico? Mas eu juro, nunca matei, pelo menos nos atos, nunca roubei, pelo
menos nos atos, nunca destruir sonhos de ninguém, nem nos atos. Em cambio,
ceifaram-me, roubaram-me as esperanças, a inocência, assassinaram sem piedade
meus sonhos simples... ah... eu sonhava bastante. Quando eu for grande quero
ser médico, quero salvar vidas. Era meu grande sonho. Hoje, se pudesse,
matar-me-ia para não mais sofrer. Ignorante pensamento, como se isso fosse
resolver meus problemas mentais, ai que cabeça essa minha, rio de minha própria
ingenuidade. Os que se diziam meus irmãos, esses se foram, pergunto-me sempre o
porquê, na verdade não sei, não faço ideia o tal porquê, mas por que haveria eu
de sabê-lo,se isso já não importa mais simplesmente nada, uma vez que o
sentimento de cadáver já se instalou em mim? Uma mistura de choro e raiva
sempre viveu em minhas entranhas emocionais, e o que me deixa como se houvesse tomado um copo de
cólera, é o fato de não saber o maldito porquê. Roubaram-me os sonhos, mas quem diabos
fez isso? Juro que não o avançarei à garganta, só queria perguntar-lhe apenas
uma coisa: Por quê? Independente da resposta, desistir é fácil, ficou fácil,
muito fácil, foi fácil.
Fortaleza, 07 de julho de 2012
Às 23h48
Belo texto, contagiante, por estilística repeticional. E ênfase no desistir e no porquê da desistência sob ênfase nos revezes e vocabulário pesado. Leva-nos a crer que se trata de outra desistência:a morte.
ResponderExcluirPaulo M.T.Duarte
Há um sentimento de subjetividade deslocada da alteridade.O personagem se deixa conduzir por um forte 'spleen" atribuídos ao abandono pelos outros. Mas ao final de uma estilística repeticionaLdesistência e porquês, o personagem rompe com o contexto prévio:deixa o porquê em aberto, pois o importante no fim são os resultados em seu ser no mundo, no desenho de campo topográfico muito reduzido de seu corpo no mundo. Salva-se o desistir! Que forma? Aceitação passiva e recolhimento ou morrer? E 2a.hipótese é especulativa, conta com meu conhecimento de mundo, é pregmática
ResponderExcluirMuito bom o texto mesmo. E ainda ter um comentário tão douto de nada mais nada menos que Paulo Mosânio... Sem palavras! Parabéns...
ResponderExcluirContraste da vida terrena meu caro Tiago Alves;
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